USD: R$ -- EUR: R$ -- BTC: R$ -- USD: R$ -- EUR: R$ -- BTC: R$ --
Navegando:
Entidades do agro se mobilizam para barrar alíquota de tributação sobre grãos

Entidades do agro se mobilizam para barrar alíquota de tributação sobre grãos


Associações que reúnem produtores e comerciantes de grãos no Brasil estão se mobilizando para recorrer à Justiça contra a Lei 12.428/2024, que recriou uma alíquota de tributação que incide sobre produção, transporte e armazenamento de soja, milho, milheto e sorgo pelo estado do Maranhão.

Chamando de Contribuição Especial de Grãos (CEG), o estado pretende taxar em 1,8% o valor da tonelada. O questionamento no Judiciário trará como um dos argumentos os impactos do tributo nos custos operacionais dos produtores rurais. Também mostrará como a nova legislação burla a Reforma Tributária.

Polêmica há 11 anos

O tema é polêmico desde 2013, quando o estado do Maranhão criou a Taxa de Fiscalização de Transporte de Grãos (TFTG), que tributou em 1% qualquer transporte de soja, milho, milheto e sorgo.

À época, produtores rurais entraram com ações na Justiça e conseguiram suspender em primeira instância a cobrança com o entendimento de que o fato de a taxa e o ICMS terem o mesmo fato gerador e incidirem sobre a mesma base de cálculo configura bis in idem tributário (cobrança de tributo sobre objeto já tributado), uma vez que o estado estaria tributando duas vezes o mesmo fato, o que viola a Constituição Federal.

Para não perder com a arrecadação, o Maranhão implementou a nova cobrança, com base no texto da Reforma Tributária, que permite aos estados instituírem contribuições para a manutenção dos fundos estaduais.

Produtores têm chances de reverter cobrança

O advogado tributarista do CSA Advogados Felipe Peralta acredita que “são significativas as chances de sucesso das associações ante a flagrante inconstitucionalidade da cobrança sobre a produção, o transporte e armazenamento de grãos”.

Segundo ele, a preocupação está no fato de que a instituição da CEG pelo Maranhão poderá abrir um precedente para outros estados.

“Se projeta uma tendência de outros entes federativos lançarem mão do mesmo expediente para aumentar a arrecadação em paralelo àquilo que constou efetivamente da reforma tributária”, comenta.

O advogado alerta que o objetivo original da reforma tributária poderá ser afetado se o cenário se confirmar. “O que mais chama a atenção é que, mesmo com todo o esforço para a aprovação de uma tributação sobre o consumo minimamente mais racional do que a atual, os operadores do sistema continuam a buscar atalhos para aumentar a arrecadação e manter a sua autonomia orçamentária”.

A nova cobrança passará a valer no final de fevereiro de 2025, revogando a TFTG a partir desta data, e incidindo sobre saídas com destino a exportação (incluindo em operações interestaduais).

Com a CEG em jogo, Peralta alerta que além da alíquota maior do que a prevista na taxa anterior (de 1% para 1,8%), estão previstas penalidades de até 50% em caso de atraso ou erros no pagamento, custos adicionais em operações destinadas à exportação e exigências fiscais que podem gerar insegurança jurídica.

Cobrança de 2013 também está em discussão

preço soja cotação - preços ao produtor agropecuário
Foto: Daniel Popov/Canal Rural

O sócio da área tributária do Santos Neto Advogados, Henrique Erbolato, destaca que a cobrança da taxa sobre as operações com grãos criada em 2013 também está em discussão no Tribunal de Justiça do Maranhão e no Supremo Tribunal Federal, por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) 7.407.

Na segunda instância e no STF, além do argumento da bitributação, discute-se que a TFTG não tem natureza jurídica de “taxa”, pois está desvinculada de qualquer atuação estatal e que viola o artigo 155, parágrafo 2, inciso X, “a”, da Constituição que proíbe a cobrança de ICMS sobre as operações que destinem mercadorias para o exterior.

Erbolato ensina que a CEG é uma contribuição distinta daquelas autorizadas pela Reforma Tributária, pois possui natureza tributária. De acordo com ele, a Reforma Tributária acrescentou o artigo 136 ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), trazendo requisitos para que os estados possam cobrar contribuições vinculadas a fundos estaduais.

Essas condições estão definidas assim:

  • 1) até 30 de abril de 2023, os fundos destinados a investimentos em obras de infraestrutura e habitação devem ser financiados por contribuições;
  • 2) o pagamento dessa contribuição deve estar vinculado a alguma espécie de algum benefício fiscal ou, nos termos do próprio dispositivo “[…] como condição à aplicação de diferimento, regime especial ou outro tratamento diferenciado […]”;
  • 3) e a nova contribuição não poderá ter base de cálculo ou alíquota superior à contribuição instituída em 30 de abril de 2023.

No caso do Maranhão, em 30 de abril de 2023, marco de tempo imposto pela ADCT, o tributo vigente era a TFTG que visava financiar o Fundo Estadual para Rodovias do Estado do Maranhão (Fepro), tendo natureza jurídica de taxa, como espécie tributária, e não “contribuição” não tributária, como previsto no artigo 136 do ADCT.

Além disso, “o pagamento da TFTG não estava atrelado a nenhum benefício fiscal, pelo contrário, o não pagamento implica na aplicação de multas a penalidades previstas na legislação tributária. E, por fim, a CEG tem percentual de alíquota de 1,8%, superior, portanto, à alíquota da TFTG”, discorre o tributarista.

Para Erbolato, a CEG violou o artigo 136 do ADCT que somente permitiu a manutenção das contribuições não tributárias exigidas pelos estados dentro dos requisitos previstos no referido artigo.

“Portanto, ao que parece, ao menos em relação ao tema dos fundos estatais e supostos adicionais de ICMS, o estado do Maranhão já tem usado da criatividade para burlar o compromisso assumido com a reforma tributária, inclusive trazendo à tona a dúvida se efetivamente haverá diminuição do contencioso tributário nos próximos anos”, finaliza Henrique Erbolato.



Source link

Assine nossa Newsletter

Sinta-se no campo com as notícias mais atualizadas sobre o universo do agronegócio.

Sem spam, você pode cancelar a qualquer momento.


Notícias Relacionadas

separar despesas fixas e operacionais pode salvar o caixa da fazenda; entenda

A gestão financeira de uma fazenda de pecuária exige que o produtor rural adote um método que vá além da simples anotação de despesas. No novo episódio da série “A Conta do Boi”, no Giro do Boi, o doutor em Zootecnia Gustavo Sartorello afirma que o passo mais crucial é classificar todas as despesas em duas categorias fundamentais: fixas e operacionais. Segundo ele, anotar despesas sem classificá-las é um erro de gestão que impede a tomada de decisões estratégicas. Sartorello explica que essa classificação, embora pareça simples, é o que separa o custo de base para sustentar a operação (custo fixo) do custo de atividade

Preço do boi gordo se mantém estável no país; confira o fechamento de mercado

Nesta quarta-feira (22), o mercado físico do boi gordo apresentou alta em estados como Tocantins, Pará, Goiás e Mato Grosso do Sul, onde as escalas de abate estão mais apertadas. Em São Paulo, os preços se mantêm acomodados, com frigoríficos de maior porte bem escalados e boa oferta de animais de parceria. Segundo Fernando Henrique Iglesias, analista da Safras & Mercado, o cenário indica redução do diferencial de base e menor eficiência de hedge. Preços do boi gordo em arroba São Paulo: manteve em R$ 313,62 (a prazo) Goiás: manteve em R$ 303,93 Minas Gerais: manteve em R$ 303,82 Mato Grosso do Sul: manteve em

evento debate pecuária sustentável e desmatamento

Produtores, frigoríficos, investidores e representantes do Ministério Público se reuniram em Brasília para o evento Diálogos Boi na Linha, iniciativa do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) em parceria com o Ministério Público Federal. O encontro discutiu o fortalecimento de compromissos socioambientais na cadeia da carne bovina, com foco na redução do desmatamento e no incentivo à regularização de áreas degradadas. Segundo a diretora executiva do Imaflora, Marina Piatto, a iniciativa também inclui programas de requalificação de produtores, permitindo que aqueles que tenham áreas degradadas possam regularizar suas propriedades e voltar ao mercado com segurança. Beef on Track Durante o evento, foi

Cecafé e governo preparam terreno para encontro Lula-Trump

O setor cafeeiro brasileiro acompanha de perto as negociações em torno de uma possível revisão das tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos. Em setembro, conforme dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), os embarques de café ao mercado norte-americano registraram queda de 52,8% em relação ao mesmo mês de 2024. Diante desse cenário, o Cecafé intensificou o diálogo com o governo federal para tentar reverter o quadro. Nesta quarta-feira (22), representantes da entidade se reuniram com o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, no Palácio do Planalto, para tratar das estratégias de retomada. Café é prioridade nas negociações

Genética e produtividade colocam o Brasil no caminho da liderança global da carne, diz diretor da Friboi

A pecuária brasileira entra na próxima década com o desafio de consolidar sua liderança global em um mercado cada vez mais competitivo. Em entrevista ao Giro do Boi, o zootecnista Eduardo Pedroso, diretor executivo de originação da Friboi, afirma que o caminho para o sucesso reside na aceleração genética e na adoção de um sistema de alta eficiência, com foco inegociável na sustentabilidade e na rentabilidade. Confira: Segundo Pedroso, para dar o próximo passo em produtividade, o Brasil precisa erradicar imediatamente o uso de touros inferiores na reprodução. “O maior sócio oculto da pecuária brasileira hoje chama boi cabeceira de boiada emprenhando vaca”, disse. O

EUA consideram impor novas restrições à exportação de produtos para a China

O governo dos Estados Unidos avalia impor novas restrições à exportação de produtos para a China que contenham ou utilizem software desenvolvido no país, como laptops e motores a jato. A medida seria uma retaliação às recentes limitações impostas por Pequim à exportação de terras raras, insumo essencial para a indústria tecnológica global. Segundo fontes ouvidas pela agência Reuters, a proposta está entre as opções em análise pela administração Trump e marcaria uma escalada significativa na guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. O plano daria sequência à ameaça feita por Donald Trump de proibir a venda de “software crítico” à China e

gigante chinesa XCMG amplia presença no Brasil com novos investimentos

A gigante chinesa de máquinas pesadas XCMG consolidou ainda mais sua presença no Brasil durante o evento “Brasil Produtivo”, realizado no Palácio Tangará, em São Paulo, na última semana. Organizado pela Extra Máquinas, representante oficial da marca no país, o encontro reuniu autoridades, empresários e líderes do setor, destacando o papel estratégico da XCMG na modernização da infraestrutura e no aumento da produtividade brasileira. Entre as autoridades presentes estiveram o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, além de representantes de entidades e empresas parceiras. O evento reforçou a importância da cooperação sino-brasileira e da presença crescente

Trump diz que pecuaristas dos EUA ‘só estão bem’ por causa de tarifas impostas à carne do Brasil

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, rebateu duramente nesta quarta-feira (22) as críticas de pecuaristas americanos e de republicanos ligados ao setor agropecuário após declarar que estuda comprar carne bovina da Argentina para reduzir os preços do alimento no país. Em publicação feita na rede social Truth Social, Trump afirmou que o bom momento da pecuária norte-americana só existe graças às tarifas impostas por ele. “Os criadores de gado, a quem eu amo, não entendem que a única razão pela qual estão indo tão bem, pela primeira vez em décadas , é porque impus tarifas sobre o gado que entra nos Estados Unidos, incluindo

Custos em queda não sustentam margem do produtor de leite no RS

O preço do leite pago ao produtor voltou a cair no Rio Grande do Sul. Em setembro, o Índice de Inflação dos Preços Recebidos pelos Produtores (IIPR) registrou recuo de 1,6% em relação a agosto, conforme levantamento da Farsul. O resultado reflete a maior oferta de leite no mercado, o que tem pressionado a renda nas propriedades. No acumulado de 12 meses, o IIPR aponta deflação de 11,44%, contrastando com a alta de 6,61% do IPCA Alimentos no mesmo período. Para a federação, o dado mostra que as altas registradas no varejo não se explicam pelos valores pagos ao produtor, mas sim por outros elos

Hugo Motta defende votar Orçamento só depois do ajuste fiscal

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026 só deve ocorrer depois de o governo resolver a questão fiscal. Segundo ele, votar o texto antes disso poderia obrigar o Congresso a alterar a meta posteriormente. A declaração foi dada nesta terça-feira (21), em meio às discussões sobre as novas medidas que o Ministério da Fazenda deve encaminhar para compensar a perda de receitas após a queda da Medida Provisória (MP) que previa aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Fazenda busca alternativas à MP do IOF A MP, que perdeu validade no