A contribuição da pecuária brasileira no processo de preservação do meio ambiente e no combate às mudanças climáticas pode avançar nos próximos anos, com uma aplicação em maior escala de sistemas de produção que façam uso de práticas adequadas de manejo do pastejo, fertilização estratégica, e de sistemas de integração, como Integração Lavoura Pecuária (ILP) e Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF).
“O estímulo à adoção dessas boas práticas agropecuárias podem acarretar melhorias consideráveis em termos de produtividade e resiliência dos sistemas de produção da pecuária nacional. Além disso, sua aplicação possibilita valorizar nossos sistemas de produção por impactarem na redução de emissão de metano entérico pelo rebanho durante o processo produtivo a pasto”, explica Marcia Silveira, pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo.
Ao implantar o manejo mais sustentável ou o ILP, há um aumento de estoque do carbono do solo, que pode ser beneficiado ainda, de acordo com Marcia, com a terminação de animais em intervalo mais curto de tempo, ou seja, fornecendo ao mercado animais terminados jovens, reduzindo a emissão durante o processo produtivo e entregando um produto com características desejáveis como marmoreio e maciez.
Nesse sentido, a Embrapa criou diretrizes técnicas para que produtores rurais possam nortear a produção sustentável de bovinos. A marca Carne Carbono Neutro (CCN), desenvolvida entre 2012 e 2020, pode ser usada em sistemas pecuários com árvores, tendo como premissa o monitoramento dos componentes do sistema – solo, planta, animal e floresta -, e traz como práticas, por exemplo, ILPF, plantio direto, manejo do pastejo, bem estar animal, manejo de adubação/fertilização, destino de madeira para serraria. Já a marca conceito Carne Baixo Carbono (CBC), cujas diretrizes foram lançadas em 2020, está associada a sistemas pecuários sem a presença de árvores e o solo é o componente chave para evitar o retorno do carbono para a atmosfera.
Para apoiar os produtores, um guia prático foi elaborado pela organização Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, a fim de trazer os conceitos gerais e apresentar os requisitos mínimos deste protocolo. O Guia para a produção de baixo carbono: aplicação do protocolo da carne baixo carbono (CBC) da Embrapa já foi apresentado aos pecuaristas em encontros específicos e agora está disponível em versão digital. A produção foi realizada com o apoio da Marfrig e financiamento da NICFI. “O guia fornece um passo a passo para a implementação do protocolo, servindo como um referencial de partida para os produtores que tiverem interesse em entender mais, antes de ingressarem neste processo de certificação”, explicou Natália Grossi, analista de cadeias agropecuárias da Amigos da Terra. (Acesse aqui)
“Essas duas marcas permitem aos produtores materializar e reconhecer seus sistemas de produção como sustentáveis, por meio da certificação de determinada área ou da propriedade como um todo, sendo esse um processo reconhecido, certificável e auditável, o que pode gerar uma perspectiva de maior visibilidade e competitividade nos mercados interno e externo diante das demandas de mercado atual”, avalia Marcia.
As marcas são fruto da parceria estratégica da Embrapa com a Marfrig Global Foods. “A CBC coloca a pecuária em um espaço no rol de soluções inovadoras para o alcance das metas climáticas e apresenta o pioneirismo do Brasil quando o assunto é mitigação de GEEs pelo próprio processo produtivo da pecuária”, pondera Natalia.
A implementação das práticas acontece em áreas consolidadas, algumas em estado de degradação, ou seja, não há a necessidade de abrir novas áreas e avançar sobre a vegetação nativa. “Estão ainda associadas à rastreabilidade individual dos animais, uma forte tendência do mercado”, diz Natália, que relembra que a AdT e a Embrapa lançaram um guia prático para orientar a sua aplicação e disseminar os seus principais conceitos entre os pecuaristas. O produtor rural pode solicitar a adesão da CCN, cujo processo é gerenciado pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) pela plataforma Agri Trace Rastreabilidade Animal. A marca conceito CBC está em processo de viabilização.
As diretrizes técnicas para a produção de Carne Baixo Carbono e Carne Carbono Neutro têm passado por ajustes ou atualizações dentro de uma lógica de melhoria contínua e incorporação de novas práticas ou tecnologias que contribuam para uma produção mais sustentável. As duas marcas estão alinhadas ao Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (Plano ABC+) e ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC).
Segundo a pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo, esses protocolos, nos últimos anos, têm ganhado espaço em todo território nacional, bem como tem sido tema de discussões técnicas e científicas a nível nacional e internacional. “Têm também despertado interesse de produtores e técnicos, no sentido de começar a produzir mediante adoção de práticas mais conservacionista, ou no sentido de valorar seus sistemas de produção”, destacou.
Em sua avaliação, mediante a divulgação cada vez maior desses protocolos e a demanda de mercado, a tendência é que sua adoção cresça. “Paulatinamente as práticas preconizadas por esses protocolos tendem a serem cada vez mais adotadas no sentido de poderem se tornar comuns no futuro. Isso seria um grande avanço para nossa agropecuária”, conclui.
Mais iniciativas
Fair Food
A Fair Food oferece certificações e selos que promovem práticas sustentáveis na produção de alimentos de origem animal. A Certificação Redutor da Pegada de Carbono é destinada a produtos que comprovadamente reduzem emissões de gases de efeito estufa (GEE) na produção animal. O selo GO PLANET™ certifica carnes e produtos lácteos que ajudam a cuidar do planeta, garantindo a redução de emissões de metano na fazenda e a rastreabilidade industrial, esse selo é utilizado pela CARAPRETA, uma empresa de proteínas nobres 100% brasileira.
No Carbon
O leite No Carbon conta com o selo Carbon Free, da ONG Iniciativa Verde, que certifica a neutralidade de carbono da empresa, de acordo com normativas internacionais. Esse selo comunica de forma clara ao mercado e aos consumidores que a marca contribui ativamente para a construção de um mundo mais sustentável, reforçando seu compromisso com a neutralização das emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Sobre a Amigos da Terra
Há 30 anos, a Amigos da Terra trabalha na promoção de iniciativas sustentáveis que visem o desmatamento zero nos habitats naturais brasileiros, com foco prioritário, mas não exclusivo, na Amazônia. A organização não-governamental brasileira atua junto aos governos e empresas, influenciando políticas públicas e privadas que possam promover o desenvolvimento sustentável e evitar a degradação ambiental. Também apoia as comunidades locais e trabalha para gerar e compartilhar informações de relevância sobre sua área de atuação. Mais informações: https://amigosdaterra.org.br/