Cleber Barbosa, da Redação
A construção de um plano para impulsionar a economia da Amazônia e motivar os jovens a ficarem no campo contou com oficinas e rodas de conversa realizadas entre 2024 e 2025, em áreas rurais dos estados do Acre (Xapuri, Brasiléia e Epitaciolândia), Pará (Santarém, Belterra, Flona Tapajós e Mojuí dos Campos) e Amapá (Oiapoque e Calçoene/Cassiporé). Os dados começam a ser divulgados agora e deverão nortear políticas públicas para o segmento.
A iniciativa envolveu quatro Unidades de Pesquisa da Embrapa — Meio Ambiente, Acre, Amapá e Amazônia Oriental (Núcleo de Santarém) — e parceiros locais como associações de extrativistas, escolas rurais, o ICMBio, o Rurap e o coletivo Amélias da Amazônia.
O pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Ivan Alvarez explica que, mais do que oficinas, os encontros funcionaram como escuta ativa das comunidades e revelaram um retrato profundo sobre os anseios de jovens e suas famílias no meio rural.
“Com metodologia participativa, foram realizados workshops que colocaram pais e filhos frente a frente para mapear dores, necessidades e soluções — internas e externas — por meio de grafos de similitude, uma técnica que identifica padrões de palavras e conceitos recorrentes” e entrevistas com questionários semi-estruturados, explica o pesquisador.
Diálogos
Entre as principais “dores” levantadas, uma palavra apareceu como elo entre diversos problemas: diálogo. Sua ausência está ligada a conflitos entre gerações, desmotivação dos jovens, dificuldades escolares e até questões de saúde e infraestrutura. Outro núcleo sensível foi educação, conectada a termos como estrutura precária, indisposição, trabalho excessivo e falta de acesso à tecnologia.
As necessidades, por sua vez, refletem uma busca por educação com qualidade e acesso, aliada a lazer, segurança, conectividade e valorização da tradição. A internet, que aparece tanto como problema (alto custo e baixa cobertura) quanto como solução (acesso à informação e oportunidades), sintetiza a dualidade vivida nas comunidades: de um lado, o trabalho prático no campo; de outro, o universo digital, ainda distante da rotina produtiva.
De acordo com Alvarez, os dados levantados apontam que 42,5% dos jovens entrevistados têm entre 15 e 18 anos e 39,6% entre 18 e 25 anos. Os aplicativos mais utilizados são WhatsApp (16,2%), Instagram (15,4%), YouTube e Google (11,9%). O custo mensal com internet chega a R$ 200 em algumas localidades, o que dificulta ainda mais o acesso. E embora a maioria avalie positivamente sua relação com o meio rural, 21,9% não sabem dizer se a internet pode ajudar a melhorar sua renda — um sinal de que falta não apenas acesso, mas também orientação prática sobre como usar as ferramentas digitais para transformar a realidade.